
Meu intercâmbio na China – e o que aprendi com ele
Aprender inglês em Malta, trabalhar na Disney ou passar o senior year em um colégio americano? Essas geralmente são as 3 possibilidades de intercâmbio que pensamos quando estudantes. Mas, afinal, o que é intercâmbio?
Intercâmbio é uma experiência enriquecedora que permite a imersão cultural em outro país. Durante um intercâmbio, estudantes e profissionais têm a oportunidade de aprimorar ou aprender idiomas, conhecer novas culturas e ampliar horizontes. Com programas diversos e destinos atrativos, como Estados Unidos, Europa e Ásia, o intercâmbio é uma escolha popular para quem busca de crescimento pessoal e profissional. Além disso, essa vivência internacional contribui para o desenvolvimento da autonomia e da adaptabilidade.
Com esta definição em mãos, lá estava eu, na metade do curso universitário pensando o que eu ia fazer com a minha vida – não nos próximos 10 anos, como perguntam hoje em dia, mas naquele momento.
Eu tinha terminado um estágio e ainda não tinha outro em vista. Queria viver alguma aventura interessante, então comecei a pesquisar (e muito) quais eram as minhas opções.
O que eu queria mesmo não era fazer um semestre do curso de Publicidade em outro lugar, mas sim algo “além”. Minhas áreas de interesse geralmente tendiam para sustentabilidade e culturas/estudo de idiomas.
Depois de muita pesquisa, um processo seletivo gigante, lágrimas de alegria e uma mala bem menor que o normal, desembarquei em Xangai rumo a Shanghai Jiao Tong University em um dia quente e úmido do verão de 2014.
O curso do intercâmbio era sobre desenvolvimento humano e sustentável, ministrado em inglês. Além de aulas sobre combustíveis, biodiversidade e etc, tivemos algumas outras como big data, gestão de processos, mandarim básico e por aí vai.
O que aprendi no curso foi incrível, mas com certeza as melhores lições eu aprendi com a vida durante a estadia do outro lado do mundo. Trouxe algumas delas aqui:
- Tradição e modernidade caminhas juntas (e sem conflitos)
Na China, os jovens e idosos convivem em harmonia, mesmo nas grandes cidades. Os edifícios mais modernos de Xangai estão separados dos mais antigos do país por apenas um rio, o Huangpu, e milhares de pessoas circulam entre “os dois lados” todos os dias. O silencioso templo budista mais importante de Xangai, construído em 1928, é localizado ao meio aos arranha-céus da cidade. E tudo funciona em plena harmonia.
- Experimentar é preciso
(mesmo se isso incluir alguns espetinhos de escorpião e gafanhoto). Podem não ser tão deliciosos, mas são mais crocantes que muita batata frita por aí kkk
Brincadeiras à parte, é o que diz o velho ditado: “When in Rome, do as the Romans do“. Com o tempo, me acostumei com os “kuàizi”, com os sabores da culinária chinesa, com as pessoas, os hábitos e até com alguns caracteres 上海 ! Foi ótimo poder viver de outra forma e a experiência colocou em perspectiva muitos dos meus velhos hábitos.
- Quanto maior o risco, maior o orgulho das conquistas
No dia de ir com a turma ver o espetáculo do Shanghai Circus World (que acredito que ter sido o mais incrível espetáculo que já presenciei na vida), perdi a hora.
Quando vi, o nosso ônibus de turismo já tinha partido e eu estava sozinha no campus da faculdade. Mandei uma mensagem no grupo e uma amiga chinesa disse: “você consegue chegar a tempo se pegar o metrô, linha 1”.
E lá fui eu, correndo pelas ruas de Xangai, tentando entender quais caracteres poderiam representar o Circo, já que você precisa indicar a estação que vai descer quando compra um bilhete no auto-atendimento.
Vários chineses me ajudaram no caminho, mesmo sem falar uma palavra de inglês (e eu de mandarim); a luz no metrô acabou e precisei trocar de trem; desci na saída errada da estação e tive que correr alguns quarteirões, completamente perdida, tentando enxergar algo que se assemelhasse a uma arena de circo.
Por fim achei o lugar – mas os ingressos estavam com o time da universidade encarregado do passeio. Como eu iria entrar?
Do nada, ouvi alguém gritar na minha direção: “Are you the SJTU missing student???”
Uma das organizadoras estava na porta, angustiada sem saber se eu chegaria ou não, com meu ingresso em mãos.
Eu poderia facilmente ter me perdido na cidade de Xangai, ter sido sequestrada ou qualquer outra coisa. Eu não tinha sinal de celular ou internet, e nem mesmo yuans suficientes para um táxi (nem pensei nisso ao sair do campus)! Se eu tivesse cogitado qualquer um dos problemas reais, nunca teria saído do campus. Mas, graças a Deus, não pensei em nada disso. A verdade é que eu tinha uma certeza inabalável de que daria tudo certo, que assim foi.
Até hoje esse é um dos episódio do meu intercâmbio que eu lembro com mais carinho porque tinha tudo pra dar errado, mas eu confiei que poderia chegar onde queria e lá fui eu.
Enfim… às vezes, tudo o que você precisa é a fé de que as coisas vão dar certo porque, se ficar esperando, pode ser que perca todo o espetáculo : )


2 Comentários
Aline Boy Camara Corrêa
Que desafio!!!
Quando Deus está a frente e a nossa fé em ação, tudo dá certo! Não olhar os obstáculos nos motiva a ir além!
Parabéns pela conquista!!!
Lari Dias
Que incrível a coragem de “navegar contra a maré”.
Parabéns por ter passado por esse desafio com sucesso, pela conquista e pela autenticidade!!
Curiosa para saber quais as maiores diferenças culturais que encontrou nesse período, seria legal saber o quanto foi impactante, pois imagino que foi bastante.